Ansiedade e depressão na gestação

Por Rafaela Schiavo – 07 Agosto 2015


Ansiedade e depressão na gestação

A gestação é um período de muitas transformações físicas, psíquicas e sociais. Para a maioria das pessoas, o estar grávida, é entendido como um momento mágico, especial e feliz na vida das mulheres, entretanto nem sempre esse momento é vivenciado dessa forma.

Cerca de 35% das gestantes apresentam sintomas de alta ansiedade (MALDONADO e DICKSTEIN, 2010; ARAÚJO et al., 2008; FAISAL-CURY, 2007; BAPTISTA; BAPTISTA e TORRES, 2006; FREITAS e BOTEGA, 2002), por volta de 65% ou mais têm estresse (RODRIGUES e SCHIAVO, 2011; WOOD et al, 2010; SEGATO et al., 2009) e cerca de 25% manifestam sintomas de depressão (GUEDES et al., 2011; FIGUEIRA; DINIZ; SILVA FILHO, 2011; MOSSO et al., 2008; MORAES et al., 2006).

Com esses dados já é possível perceber que a fase gestacional não é sentida como um momento de perfeita harmonia na vida de muitas mulheres. Entretanto, a sociedade continua a tratar a gestante como um ser que está na sua plenitude de felicidade, até mesmo os profissionais da saúde que trabalham com esse público negligencia a saúde mental da mulher por terem também internalizado esse estereótipo de gestante feliz.

É preciso criar espaços na comunidade para se falar sobre as angustias que atormentam a mulher no período gestacional. Pesquisas indicam que mais de 50% das gestantes não planejaram a gravidez (PIMENTEL, 2011; CHAVES, 2010; SANTOS, 2009; SCHIAVO e BORMIO, 2008) e existe associação entre não planejamento da gravidez e problemas de saúde mental durante a gestação (SCHIAVO, 2011; BENUTE et al., 2010; MATOS e PIÉLAGO; FIGUEROA, 2009; DAVID et al., 2008).

Pesquisas também indicam que sintomas de ansiedade e depressão no puerpério estão fortemente associados aos sintomas já apresentados durante a gestação, ou seja, se a mulher apresenta ansiedade ou depressão na gestação a probabilidade da mesma continuar a apresentar esses sintomas no pós-parto é alta (MORAIS, LUCCI e OTTA 2013; RODRIGUES e SCHIAVO, 2011; SCHIAVO, 2011; LANES; KUK; TAMIM, 2011; MURRAY; HALLIGAN e COOPER, 2010; SOHR-PRESTON e SCARAMELLA, 2006).

Muito disso ocorre, pois, não é identificado tais sintomas ainda na gestação, justamente porque prevalece a ideia de que a gestante está feliz e é só no pós-parto que a doenças mentais aparecem. Hoje a ciência já provou que não é bem assim, portanto, é preciso identificar o quanto antes os problemas de saúde mental na gestação para intervenção, assim evitando que tal problema mental continue a prevalecer no pós-parto.

Uma sugestão para que os problemas de saúde mental sejam avaliados o mais precocemente possível na gestação é o oferecimento do pré-natal psicológico.

Infelizmente esse tipo de trabalho não é muito conhecido pela população, o número de gestantes que procuram um atendimento clínico psicológico é muito pequeno, em geral as gestantes procuram quando o problema de saúde mental já está lhe trazendo muito sofrimento.

É necessário que se crie uma nova cultura no que diz respeito a saúde da gestante, onde a população se preocupe não só com a avaliação médica da gestação, mas também com a mental.

Se você é gestante e mesmo que esteja se sentindo bem, procure um psicólogo ou outro profissional da saúde mental para uma avaliação, afinal prevenir é melhor do que remediar!!!!


Referências Bibliográficas

ARAUJO, D. M. R; PACHECO, A. H. R. N; PIMENTA, A. M; KAC, J. Prevalência e fatores associados a sintomas de ansiedade em uma coorte de gestantes atendidas em um centro de saúde do município do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, Recife, v.8, n.3, p.333-340, 2008.

BAPTISTA, M. N; BAPTISTA, A. S. D; TORRES, E. C. R. Associação entre suporte social, depressão e ansiedade em gestantes. PSIC Revista de Psicologia, Vetor Editora, Campinas, v.7, n.1, p.39-48, 2006.

BENUTE, G. R. G et al. Depression during pregnancy in women with a medical disorder: risk factors and perinatal outcomes. Clinics, v.65, n.11, p.1127-1131, 2010.

CHAVES, J. H. B et al. Abortamento provocado e o uso de contraceptivos em adolescentes. Revista Brasileira Clínica Médica, v.8, n.2, p.94-100, 2010.

DAVID, M. A. O et al. Depressão em grávidas hipertensas: preocupações maternas durante a gestação. Psicologia Hospitalar. São Paulo, v.6, n.1, p.2-20, 2008.

FAISAL-CURY, A; MENEZES, P. Prevalence of anxiety and depression during pregnancy in a private setting sample. Arch. Womens Ment Health, v.10, p.25-32, 2007.

FIGUEIRA, P.G; DINIZ, L.M., SILVA FILHO, H.C. Características demográficas e psicossociais associadas à depressão pós-parto em uma amostra de Belo Horizonte. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, v.33, n.2, p.71-75, 2011.

FREITAS, G.. V. S; BOTEGA, N. J. Gravidez na adolescência: prevalência de depressão, ansiedade e ideação suicida. Revista da Associação Médica Brasileira, São Paulo, v. 48, n. 3, p. 245-249, 2002.

GUEDES, A. C. E et al. Depressão pós-parto: incidência e fatores de risco associados. Revista de Medicina, v.90, n.3, 2011.

LANES, A; KUK, J. L; TAMIM; H. Prevalence and characteristics of Postpartum Depression symptomatology among Canadian women: a cross-sectional study. BMC Public Helth, v.11, n.302, 2011.

MATOS, M. L. L; PIÉLAGO, J. S; FIGUEROA, A. L. Depresión mayor em embarazadas atendidas en el Instituto Nacional Materno Perinatal de Lima, Perú. Rev. Panam. Salud Publica/Pan. Am. J. Public Helth, v.26, n.4, p. 310-314, 2009.

MORAES, I. G. S et al. Prevalência de depressão pós-parto e fatores associados. Revista de Saúde Pública, v.40, n.1, p.65-70, 2006.

MORAIS, M. L. S; LUCCI, T. K; OTTA, E. Postpartum depression and child development in first year of life. Estudos de Psicologia. Campinas, v.30, n.1, p. 7-17, 2013.

MOSSO, F. T et al. Prevalência de depressão pós-parto em puérperas de Maringá, Saúde e Pesquisa, v.1, n.3, 2008.

MURRAY, L.; HALLIGAN, S. E.; COOPER, P. Effects of postnatal depression on mother-infant interactions and child development. In: BREMNER, G.; WACHS, T. (Eds.). The Wiley-Blackwell handbook of infant development. Oxford: Wiley, 2010.

PIMENTEL, K; SÁ, C. M. M.N; FERREIRA, N; SILVA, T. Perfil clínico-social das gestantes numa cidade docente-assistencial baseada no modelo da saúde da família. Revista de Saúde Pública, v.35, n.2, p.2309-249, 2011.

RODRIGUES, O. M. P.R; SCHIAVO, R.A. Stress na gestação e no puerpério: uma correlação com a depressão pós-parto. Revista de Ginecologia e Obstetrícia, v.33, n.9 p. 2011.

SANTOS, J.O et al. Perfil das adolescentes com reincidência de gravidez assistidas no setor público de Indaiatuba-SP. Revista Inst. Ciência e Saúde, v.27, n.2, p.115-121, 2009.

SEGATO, L et al. Ocorrência e controle do estresse em gestantes sedentárias e fisicamente ativas. Revista da educação Física/UEM, Maringá, v.20, n.1, p.121-129, 1.trim. 2009.

SCHIAVO, R.A. Presença de estresse e ansiedade no terceiro trimestre de gestação e no pós-parto. 2011. 141f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista-UNESP, Bauru, 2011.

SCHIAVO, R. A; BORMIO, S. N. G. A primigesta e o sexo do bebê: um estudo exploratório. Revista Perspectiva, Erexim, v.32, n.120, p.93-103, Dez 2008.

SOHR-PRESTON, S. L.; SCARAMELLA, L. V. Implications of timing of maternal depressive symptoms for early cognitive and language development. Clin. Child Fam. Psychol. Rev., v.9, n.1, p.65-83, 2006.

WOOD, S. M. et al. Psychosocial stress during pregnancy. Am. J. Obstet. Gynecol.,

2 comentários Adicione o seu

  1. Cristiane disse:

    Muito bem lembrado, eu iniciei um tratamento para Transtorno Bipolar Afetivo antes de engravidar, e quando soube da gestação parei de maneira abrupta com a medicação, e ao informar a médica obstetra da rede privada de saúde que utilizava tais medicações ela me disse que ” não tome isso não, você está num momento tão bom, pra que isso?”. Infelizmente segui seu conselho… Não foi boa ideia, voltei a ter crises de irritabilidade, passei a não suportar sons, luzes, fiquei sem apetite e perdi 3 kg em dois meses, não suportava que ninguém me tocasse, não dormia por 3 a 5 noites seguidas. Até que resolvi iniciar outro pré-natal no pelo SUS, e uma enfermeira obstetra me ouviu, se interessou pelo meu caso e imediatamente marcou uma consulta com o psiquiatra do próprio posto, e aos poucos estou me recuperando. Certamente a gestação não é um mar de rosas, porém com os cuidados certos e assistência adequada podemos passar por ela de uma maneira melhor e mais feliz.

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