Dia Internacional de Sensibilização à Perda Gestacional

Por Flávia Lopes – 15 Outubro 2015 – Atualizado em 15 Outubro 2016


Este sem dúvida foi um dos textos mais difíceis de escrever e também o mais pessoal. Pensei inicialmente em fazer apenas um texto teórico com informações sobre os aspectos psicológicos da perda gestacional, mas não foi possível deixar de lembrar de toda minha experiência, de cada frase dita de forma equivocada, de cada face de espanto quando digo que passei por uma perda gestacional e muito menos por cada tentativa desajeitada de consolo como por exemplo “logo vocês terão outro filho” ou “foi melhor desta forma, devia ter alguma coisa errada com o bebê”.

Neste momento ouvi, na maioria das vezes, “conselhos” que aumentaram a dor, ditos por pessoas muito próximas que queriam na verdade consolar, mas acabaram fazendo justamente o contrário, por incompreensão da situação e de todos os aspectos psicológicos envolvidos.

Neste dia 15 de Outubro, Dia Internacional de Sensibilização à Perda Gestacional e do Infante, eu quero chegar a todas as famílias que passaram por esta experiência e dizer a elas que lembrem das suas gestações e de seus bebês não só hoje mas no seu dia-a-dia, como eu lembro. E dizer que desejo que toda a dor vivenciada no luto possa, com o tempo, se transformar em saudade e dar força e ânimo para que a vida siga seu caminho. Desejo também que cada mãe e cada pai possa falar de suas perdas e que possa encontrar apoio em seus familiares e amigos, e que o filho perdido não seja um tema que cause desconforto para quem os escuta.

Este dia é uma oportunidade para os pais, suas famílias e amigos reconhecerem e lembrarem seus preciosos bebês que morreram, independentemente do tempo gestacional. É também uma oportunidade para aumentar a conscientização sobre o impacto emocional da morte no período pré, peri e neonatal na vida da família.

E é a partir deste ponto que tentarei deixar o texto mais informativo e só um pouco menos pessoal.

O Dia Internacional de Sensibilização à Perda Gestacional e do Infante tem como objetivos:

  • Dar visibilidade à problemática da Perda Gestacional e o Infante;
  • Lutar por respeito ao luto de mães e pais que passam por essa experiência;
  • Contribuir com a sensibilização do tema disseminando informações, quebrando o silêncio e diminuindo tabu;
  • Dignificar o sofrimento e dar voz às famílias.

Este é um dia importante pois em nossa cultura não somos ensinados desde criança a lidar com a morte e o luto. Ainda mais quando o luto ocorre no início da vida, em que é esperado apenas alegrias e planos de futuro. Ainda mais quando o lidar com a morte interrompe abruptamente toda uma experiência de descobertas, de emoções e de comportamentos até então desconhecidos, novas identidades, novos significados existenciais e novos papéis sociais.

A perda é ainda mais dolorida se pensarmos que a assistência médica é prestada no ambiente hospitalar preparado apenas para a celebração da vida. Neste ponto, precisamos todos: profissionais de saúde, familiares e amigos, devem estar atentos pois esta situação torna-se até mesmo cruel com as famílias. O rompimento da possibilidade do exercício da maternidade traz à tona sentimentos de fracasso; incapacidade; impotência; tristeza; frustração; desapontamento; raiva (que pode ser em relação às outras mulheres grávidas, aos médicos, ao marido); e culpa por achar que possa ter feito alguma coisa que contribuiu para o desfecho da perda gestacional.

Os desejos e sonhos em relação àquela criança foram frustrados e a impossibilidade de exercer a maternidade causa um grande sofrimento psíquico. Podendo ser desencadeado futuramente episódios depressivos e ansiosos em momentos significativos daquela gestação, como na data prevista para o parto, na data da perda gestacional em anos subsequentes ou em uma próxima gravidez.

É importante dizer que as reações psicológicas não estão relacionadas diretamente com o tempo de gestação. Dependem da motivação e desejo da gravidez, do investimento emocional e da ligação com o bebê. Contudo, as perdas gestacionais ocorridas no terceiro trimestre ou após o nascimento normalmente apresentam um maior impacto e requerem um maior tempo de elaboração do luto.

Neste processo de elaboração do luto, uma das principais dificuldades vividas pela família que sofre perda gestacional é o tabu que existe em torno da morte de um bebê. Costuma-se atribuir ao bebê uma importância menor do que aquela que é dada a outras pessoas, só porque sua vida foi mais curta. A impressão que se tem é que estes pais não recebem da sociedade autorização para vivenciar o seu sofrimento.

Como psicóloga e por ter experienciado uma perda gestacional enfatizo que existe uma grande necessidade de humanização do atendimento nos serviços de saúde, com o oferecimento de apoio multiprofissional às mulheres, bem como a importância de uma rede de apoio consistente e atuante. Mas para isso precisamos que o tema seja amplamente divulgado e discutido.

E no sentido de ampliar as redes de apoio, o apoio on-line tem se mostrado bastante eficiente. Virtualmente as mulheres podem expressar seus sentimentos em relação à perda e perceber que não são as únicas a vivenciar esse momento, diminuindo o sentimento de solidão.

Com o propósito de auxiliar na sensibilização ao atendimento à perda gestacional nos hospitais e maternidades do Brasil, respeitando à autonomia e dignidade humana, surge na cena virtual diversos grupos formados principalmente por mulheres que se uniram pelo desejo de oferecer apoio e suporte para quem se identifica com a causa, uma vez que também vivenciaram a perda gestacional, cada uma com as suas peculiaridades.

CONTE A SUA HISTÓRIA Temos que falar sobre isso estamos aqui para lhe escutar e acolher na sua dor do luto! Vamos juntas ❤

Participe também da nossa campanha em parceria com a ONG Amada Helena hoje vamos encher as redes socias com histórias de amor pelos nossos bebês que se foram tão cedo! Vamos validar a dor do luto e dar uma palavra de conforto a todos que passaram pelo drama da perda gestacional e neonatal. Utilize a hashtag #parasempremãe e compartilhe a
sua história!

1 comentário Adicione o seu

  1. tania côrtes disse:

    faz um mês que minha filha fez cesárea pra retirada do feto com 5 meses de gestação. eu como vó fik a pensar na minha filha e do bb que perdeu. como fica nosso psicológico?

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