Entrevista com Larissa Rocha – Do Luto à Luta: Apoio à Perda Gestacional

Entrevista com Larissa Rocha, fundadora do projeto Do Luto à Luta: Apoio à Perda Gestacional

1)Informações sobre as fundadoras e colaboradoras do grupo:

Somos 4 mulheres que vivenciaram a experiência com a perda gestacional. Cada história possui suas singularidades, marcas e emoções. Em comum temos o desejo de oferecer suporte àqueles que se sentem diretamente afetados pela perda gestacional ou neonatal.

Nossa fanpage atualmente possui mais de 5000 curtidas, temos a página do abaixo assinado no site da petição pública. Realizamos encontros presenciais do nosso grupo de apoio à perda gestacional todo último sábado do mês, de 09 às 11 hs, na cidade do Rio de Janeiro.

Além disso, temos contato com criadores de outros grupos de apoio à perda gestacional em outras Cidades/Estados divulgados na nossa fanpage https://www.facebook.com/cuidadocomaperdagestacional?fref=ts.

2) Como se deu o começo deste projeto? Quais os objetivos principais? Contem um pouco a história de vocês!

O projeto começou com a exposição da minha história pessoal em conjunto com a minha irmã gêmea, objetivando chamar atenção da maternidade na qual vivenciamos nossas perdas para a necessidade de se ter um maior cuidado com a perda gestacional. Por isso postamos um desabafo nas redes sociais marcando a maternidade, mas não obtivemos resposta.

No entanto, devido à repercussão inesperada deste desabafo, nos sensibilizamos com os relatos de conhecidos e estranhos que resolveram partilhar suas experiências pessoais com a perda.

Resolvemos criar um abaixo assinado on line ao perceber, através desses relatos, o quanto, infelizmente, a falta de sensibilidade no atendimento à perda gestacional é comum a vários hospitais e maternidades. Há muito despreparo das equipes de saúde e das maternidades na condução desses casos, não é uma questão restrita ao Rio de Janeiro.

Com o abaixo assinado conseguimos compilar diversos depoimentos ilustrando a importância do movimento iniciado no Brasil inteiro. E decidimos criar a fanpage Do Luto à Luta: Apoio à perda gestacional, para que pudéssemos reunir no mesmo espaço diversos tipos de material sobre o tema, além de oferecer apoio e suporte aqueles que se sentem diretamente afetados pela perda.

Em seguida criamos o grupo de apoio presencial à perda gestacional, com encontros mensais, último sábado do mês, de 09 às 11 hs, na zona sul da cidade do Rio de Janeiro, desejando apoiar as pessoas que se sentem diretamente afetadas pela perda e não se sentem autorizadas, nem reconhecidas na sua dor do luto. Uma vez que é um luto não autorizado, nem reconhecido socialmente.

Nosso propósito maior com o movimento é auxiliar na sensibilização ao atendimento à perda gestacional nas maternidades e hospitais do Brasil.

3) Como vocês pensam e propõem o apoio para as mulheres que viveram perdas gestacionais?

Nós desejamos oferecer apoio/suporte às mulheres e famílias que viveram a perda gestacional, através da fanpage, dos encontros do grupo de apoio presencial, e atualmente com a nossa bela parceria com o importante projeto Temos que falar sobre isso, por intermédio dos depoimentos anônimos ou não sobre a sua experiência com o tema. Percebemos o quanto que, ao partilhar suas histórias, existe o efeito terapêutico das famílias que passaram por este drama não se sentirem mais tão sozinhas e solitárias na sua dor.  Assim como existe o desejo genuíno de quem compartilha sua dor de ajudar outras pessoas, também querem oferecer apoio e suporte, criar uma rede de acolhimento, empatia e solidariedade à dor do luto.

4) Na opinião de vocês, como está a assistência às mulheres e famílias que vivem perdas gestacionais? Quais situações precisam ser transformadas? Como acreditam que isso pode acontecer?

Na nossa opinião, existe muito trabalho a ser feito no que tange à assistência prestada nos casos de perda gestacional. Acreditamos que é preciso desenvolver um trabalho de capacitação com os profissionais de saúde para sensibilizá-los e orientá-los nesses casos – desde a forma como se comunica uma notícia difícil (um filho na UTI, uma morte) até as normas e diretrizes que já existem sobre a conduta a essas situações. Como, por exemplo, oferecer e permitir que os pais e familiares se despeçam do filho, pois existem estudos mostrando que esta atitude auxilia na elaboração do luto. É um material da Organização Mundial de Saúde (OMS), muito importante, que precisa ser conhecido e os profissionais sensibilizados para a sua importância e necessidade.

Acreditamos também em mudanças práticas e objetivas, que tínhamos reivindicado num primeiro momento, como uma pulseira de identificação para evitar que as mães sejam parabenizadas erroneamente; ou um espaço reservado nas maternidades para os casos de perda gestacional. É preciso conscientizar, sensibilizar os funcionários das maternidades para a importância das famílias se sentirem respeitadas, acolhidas no seu sofrimento e dor, e também nos seus desejos.

5) O projeto conta com parcerias? Quais?

Atualmente contamos com a parceira do projeto Temos que falar sobre isso, importante página com plataforma on line de desabafos anônimos, para que as mulheres no período gravídico-puerperal possam partilhar as dores e dificuldades nesse momento tão delicado.

Também temos parceiros psicólogos como Helena Aguiar, Juliana Benevides e Rodrigo Luz. e estamos construindo novas parcerias com projetos importantes com um olhar cuidadoso e atento de especialistas em luto, como o Instituto Entrelaços, o Instituto 4 Estações, e a plataforma on line Vamos falar sobre o luto.

Nossa intenção com essas parcerias é dar cada vez mais visibilidade à dor do luto na perda gestacional e neonatal, para pensar concretamente em meios de conseguirmos viabilizar nosso propósito maior de auxiliar na sensibilização ao atendimento à perda gestacional nas maternidades do Brasil.

6) Quais os projetos futuros para este grupo?

Existem vários projetos futuros que pedem e demandam novas parcerias, como a realização de workshops sobre o luto na perda gestacional, como um espaço psicoeducativo, de instrução e orientação sobre o tema, como dar a notícia da perda, como apoiar o seu parente que perdeu; dentre outros.

Também desejamos fazer uma conferência com pessoas engajadas no tema no Brasil no ano que vem, para discutir e refletir sobre o que pode ser feito para melhorar a assistência prestada a esses casos, além de sensibilizar a sociedade para a relevância de reconhecer e autorizar este tipo de luto.

Queremos também publicar um livro para 2016, com vários depoimentos compilados de mães que já nos enviaram o seu desabafo, visando auxiliar na elaboração do luto das famílias que ainda vão vivenciar este drama, mostrando que elas não estão sozinhas, por intermédio da identificação com as histórias e emoções.

Ambicionamos também criar um grupo de trabalho com profissionais de saúde para promover um espaço de reflexão sobre a morte, que é um grande tabu, a própria morte deles, os rituais desejados e esperados por eles, para depois pensar sobre o outro, a forma como a morte do outro me atinge, de um bebê que está na barriga pode atingir mais ainda (vai contra a ordem natural da vida, dos pais morrerem antes dos filhos).

Enfim, são muitos sonhos que estamos planejando com afinco para poder transformar em realidade, mas precisamos de parcerias, pessoas que compartilhem desses mesmos desejos para juntos podermos concretizá-los.

7) Há alguma mensagem final que vocês desejariam compartilhar com os leitores?

Queremos contagiar os leitores com o nosso projeto e movimento proativo, de buscar sentido na dor do luto, através da criação do Do Luto à Luta, e esperamos que vocês, cada um à sua maneira, possam buscar algum sentido na sua dor, para não se entregarem à angústia, ao medo do existir, e paralisarem. Acreditamos que cada um possui potencialidades, talentos, que precisam ser despertados em prol da sociedade, de um bem maior e comum.

Muitos nos enviam mensagens perguntando se a gente vai para a sua cidade, dizem que temos que criar um grupo lá. Na verdade, esperamos que vocês disseminem a mensagem e se articulem em grupos nas suas próprias cidades, oferecendo apoio, suporte às famílias. O mesmo esperamos com o abaixo assinado on line, queremos que todos que desejam reivindicar o que pedimos na petição façam uso da mesma para agendar uma reunião na sua maternidade de origem e peçam por melhorias.

Acreditamos que a mudança começa pela gente, precisamos ser a mudança que queremos ver no mundo, como já dizia Gandhi.

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