Violência x Saúde Mental

Por Rafaela Schiavo – 2 Julho 2015


Violência contra a mulher na gestação e parto pode levar a problemas de saúde mental no pós-parto

Muitas mulheres são alvos de violência de todos os tipos (física, verbal, psicológica e sexual), é grande o número de mulheres que relatam ter experienciado algum tipo de violência. O número de denúncias é grande, entretanto, há ainda um número maior quando pensamos nas que não denunciam.

Além da violência domestica que muitas mulheres sofrem, há também um número crescente de relatos de mulheres que vivenciaram a violência obstétrica. Violência obstétrica é quando o profissional da saúde não respeita o corpo e o processo reprodutivo da mulher, tratando-a de forma desumanizada, os tipos de violências obstétricas também são do tipo (física, verbal, psicológica e sexual).

Mulheres que sofrem violência de qualquer tipo têm maiores probabilidades de desenvolverem problema de saúde mental. Em uma pesquisa de revisão de literatura conduzida por Ribeiro e Colaboradores (2009) identificaram que uma parte importante dos problemas de saúde mental em países em desenvolvimento como o Brasil pode ser atribuída à violência. Entre as mulheres violentadas os problemas de saúde mental mais frequente são: depressão, ansiedade e estresse pós-traumático.

Gestantes expostas à violência doméstica também são mais propensas a desenvolver sintomas psiquiátricos (PEREIRA; LOVISI, 2008; LANCASTER et al., 2010), além de prejudicar o desenvolvimento fetal, podendo causar prejuízos futuros ao desenvolvimento infantil (ENGLE, 2009).

A violência obstétrica se evidencia no momento do parto, e infelizmente esse ainda é um tipo de violência que muitas mulheres nem mesmo sabem que estão sendo vítimas. Cerca de 70 a 80% das mulheres no início da gestação desejam ter um parto normal, mas infelizmente ao longo do tempo principalmente por influência de seu obstetra durante o pré-natal as mulheres vão deixando o desejo de parir dando lugar a aceitação de uma cesariana.

Mas a cesariana é uma violência contra a mulher ??

Quando não há o desejo da mulher e não há nenhum tipo de indicação pautada em evidência científica de que é necessária uma cesariana, sim, aí é uma violência contra o desejo e o corpo da mulher. Mulheres que não foram respeitadas sobre seu desejo de ter seu filho pelo parto normal, tendem a ter depressão pós-parto e muitas vezes se torna difícil o relacionamento mãe/bebê. Não só por causa da depressão, mas também porque quando ocorre uma cesariana, em muitos hospitais no Brasil mãe-bebê não ficam próximos nos primeiro momentos após o nascimento da criança, principalmente porque essas mulheres ficam em uma sala de recuperação até voltar da anestesia e o recém nascido acaba ficando esse tempo no berçário.

Tal separação, muitas vezes, impede o enamoramento da dupla nas primeiras horas pós-parto, esse enamoramento é importante para o desenvolvimento do vínculo.

Para Michel Odent, importante médico francês considerado símbolo do parto natural, a primeira hora após o nascimento é um momento de extrema importância para o desenvolvimento do vínculo entre mãe e filho. Essa primeira hora tanto a mãe quanto a criança ainda não eliminaram os hormônios que ambos secretam durante o processo de parto, esse coquetel de hormônios são responsáveis pela capacidade de amar e formação do vínculo.

Quando é retirada da dupla mãe-bebê essa oportunidade única na vida, pois nunca mais os hormônios do amor estarão presentes em perfeita sintonia no corpo de ambos como na primeira hora após o parto, isso então pode afetar de alguma forma a relação mãe-filho.

Não só a cirurgia cesariana pode ser considerada violência obstétrica como também o desrespeito com o corpo da mulher no parto vaginal. Infelizmente no Brasil hoje temos um modelo de parto vaginal muito agressivo cheio de intervenções desnecessárias e não baseadas em evidências científicas. A dor do parto vaginal, portanto, é triplicada não pela fisiologia natural da mulher, mas por causa das intervenções realizadas que muitas vezes somam-se a dor física, moral e psicológica. No final das contas a mulher acaba sentindo esse momento não mais como deveria ser: um momento bonito e mágico em sua vida, mas, sim como um momento de dor e terror. Tal vivência, em geral, pode levar a mulher a apresentar o transtorno de estresse pós-traumático no pós-parto, tendo como fator desencadeante do transtorno os eventos do parto.

Todo tipo de transtorno mental no puerpério pode influenciar negativamente na relação mãe-bebê e, consequentemente, pode levar a prejuízos ao desenvolvimento infantil.

Se você se identificou como tendo sofrido algum tipo de violência citada no texto e teve bebê há menos de um ano e apresenta sintomas tais como: insônia, falta de apetite, pesadelos, choro fácil, tristeza, vontade de fugir de tudo, isolamento, medo, sentimento de incapacidade e desejo de morrer. Procure IMEDIATAMENTE ajuda especializada de um profissional da saúde.

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