O que significa idade corrigida? Vamos conhecer?

Por Teresa Ruas – 16 Novembro 2015


No mês destinado à prematuridade, decidi escrever um pouco sobre algumas características que o bebê prematuro possui, como uma tentativa de minimizar algumas dúvidas e/ou angústias que muitos pais de prematuros possuem, especialmente, quando precisam enfrentar algumas ‘comparações’ entre o desenvolvimento de bebês a termo e pré- termo.

Inicialmente, preciso começar esse post explicando que prematuridade significa o nascimento antes das 37 semanas de gestação. Quanto mais longe das 37 semanas gestacionais acontecer o nascimento de um bebê, mais prematuro ele será, sendo caracterizado como um prematuro extremo. É o que acontece, por exemplo, com um recém-nascido que nasce com 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29 semanas gestacionais. Por outro lado, quando mais perto das 37 semanas ocorrer o nascimento, mais maturidade cardíaca, respiratória, neurológica e, portanto, fisiológica terá o recém-nascido, sendo caracterizado como um prematuro tardio, como acontece com o nascimento por volta das 34, 35, 36 semanas gestacionais.

Decidi expor essa diferença na classificação, pois, apesar de todos esses bebês serem caracterizados como prematuros, eles carregam/apresentam muitas diferenças entre si, especialmente, no que diz respeito à maturidade neurológica, respiratória, cardíaca, necessidade e tempo de internação em uma UTI neonatal, necessidades cirúrgicas, terapêuticas, entre outras.

Porém, mesmo que eles carreguem muitas diferenças entre si, todo bebê prematuro – desde o mais extremo ao mais tardio – terá  sua idade cronológica  corrigida. Isso quer dizer que todo prematuro terá 2 idades: a cronológica- o dia em que nasceu- e a corrigida, – desconto na sua idade cronológica- como uma maneira nobre de respeitar o tempo em que o bebê não permaneceu no útero materno e de minimizar as consequências de ter completado o seu desenvolvimento – frequentemente, em um ambiente hospitalar – sofrendo várias agressões externas e procedimentos invasivos.

Portanto, a idade corrigida é uma característica a qual os pais de prematuros precisam se acostumar. Se a criança nasceu, por exemplo, dois meses antes, ela terá este mesmo desconto na sua idade cronológica, especialmente, durante os dois primeiros anos de vida para toda e qualquer aquisição infantil/marco do desenvolvimento, incluindo também o peso, a estatura e o diâmetro cefálico. E o desconto sempre terá como referência uma gestação de 40 semanas.

Para exemplificar, vamos pensar no nascimento de um prematuro extremo, com 23 semanas gestacionais e, que, atualmente já esteja com seis meses de idade cronológica.

A conta para saber o desconto que será realizado na idade cronológica será: 40 (média de uma gestação sem intercorrências) – 23 (idade gestacional em que o bebê nasceu) = 17 (resultado final). O número/resultado 17 significa quantas semanas devem ser descontadas da idade cronológica atual. Então seriam seis meses/27 semanas (6 x 4.5), descontados das 17 semanas. Ou seja, 27-17= 10 semanas.

Isso quer dizer que o prematuro extremo, com seis meses de idade cronológica, precisa ter a avaliação do seu desenvolvimento referente a dez semanas de vida e, não a seis meses de idade.

Ou seja, antes de qualquer comentário ‘absurdo’ que nós pais de prematuros, especialmente dos extremos, ouvimos, tais como: “nossa, como ela é pequena para a idade dela!”; “meu filho, com essa idade já sentava sozinho”; “meu Deus, será que ela não precisa tomar alguma vitamina para crescer?”; “será que ela tem algum atraso significativo no desenvolvimento?”, entre outros. Temos que ter sempre em mente que precisamos corrigir a idade de nossos filhos.

Eu mesma ouvi tantos comentários que, quando algum desconhecido me perguntava a idade de Maitê Maria, já dizia de cara a idade corrigida e não a cronológica. Afinal de contas, é a corrigida que deve prevalecer no que diz respeito a todo o desenvolvimento e crescimento infantil nos primeiros anos de vida. E dizer e/ou olhar os nossos filhos diante da idade corrigida, não significa nenhuma mentira, vergonha e/ou tristeza por parte de nós que somos pais. Significa, antes de tudo, um respeito ao tempo no qual os nossos filhos não ficaram em nossos ventres, uma gratidão frente a toda luta travada em prol da sobrevivência e sabedoria diante da ciência que afirma sobre a necessidade dessa correção. Além, é logico, de pouparmos nossos ouvidos e corações diante de comentários descontextualizados à realidade de nossos filhos.

E preciso afirmar, também, que a idade corrigida não significa em nenhum momento falta de preocupação e/ou atenção com os marcos típicos do desenvolvimento, como: sorrir socialmente, fazer contato de olho, explorar visualmente as mãos, firmar a cabeça, pegar um brinquedo com as mãos, passar um brinquedo de uma mão para outra, explorar visualmente o ambiente/as pessoas/os brinquedos/objetos ao redor, rolar, sentar, engatinhar, andar, falar, entre outros. Muito pelo contrário! Significa atenção e respeito ao desenvolvimento infantil, até para adquirirmos mais conhecimentos e informações sobre a necessidade real de um acompanhamento terapêutico com os diversos especialistas – terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, fonoaudiólogo – para estimular o desenvolvimento e suas importantes etapas e aquisições motoras, sensoriais, cognitivas, afetivas e sociais.

Além disso, quando afirmo sobre a importância dos marcos do desenvolvimento e seu acompanhamento em crianças de risco, ou seja, as que possuem maior vulnerabilidade em expressar alguma intercorrência ao longo da trajetória do desenvolvimento, como os prematuros, não estou sendo contra ao respeito ao ritmo, tempo, especificidades, necessidades e contexto de cada criança. Respeitar o ritmo e contextualizar cada característica apresentada é importantíssimo, mas isso não pode e não deve encobrir o que já conhecemos sobre as etapas do desenvolvimento infantil. O que nós profissionais e pais devemos ter em mente é a importância da complementaridade do ritmo/tempo/ características apresentadas aos marcos típicos do desenvolvimento e, tudo isso, contextualizados ao ambiente no qual a criança vive.

Isso quer dizer que criança de risco deve ser acompanhada de perto pelos pais e especialistas. Mesmo que a criança esteja bem, os marcos do desenvolvimento infantil precisam ser acompanhados, não como uma forma de não respeitarmos o ritmo de cada criança, mas como uma forma eficaz de prevenirmos possíveis dificuldades e/ ou transtornos ao longo do desenvolvimento.

Felizmente, existem muitos prematuros que não apresentam nenhum problema e/ou atraso em seu desenvolvimento. Mas, infelizmente, existem outros que apresentam sim, por isso, é de extrema importância que os pais e profissionais entendam a importância da idade corrigida, as especificidades e características próprias da prematuridade para que não ocorram diagnósticos errados – desde os muito precoces até os muito tardios – em nossas crianças, especialmente, nos primeiros anos de vida, ok?

Um grande abraço, até o próximo post, Teresa Ruas

Fonte original: Blog Minha Teoria na Vida

4 comentários Adicione o seu

  1. Lais Batista Dos Santos disse:

    Meus bbs são gêmeos Eles nasceram no dia 24/12/16 , eles nasceram de 35 semanas , qual a idade corrigida deles?

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    1. teteruas disse:

      Ola! 2 anos e 1 mes. Muito obrigada por expor a sua dúvida. Eu tenho um post que explica direitinho a conta e o significado da idade corrigida https://prematuros.com.br/?p=42

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  2. Virgílio Cardoso Lima disse:

    6 meses não seria 24 semanas, não ?

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  3. Silvana disse:

    Mto bom há exato seis dias após o nascimento da minha bonequinha tb prematura Maria Joana 😍

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