Por Thais Cimino – 07 Janeiro 2017 · Imagem destacada da fotógrafa Jade Beall
Não, nada nem ninguém vai mudar o fato de que o aleitamento materno é o melhor e mais completo alimento para o bebê humano (e traz incontáveis benefícios para a mulher também).
Em meio a olhares condenatórios e ao tabu que gira em torno do peito que alimenta em um local público – olhares esses, diga-se de passagem que se orgulham do peito que balança ao som do samba – conseguimos no Brasil amamentar exclusivamente em média 54 dias, o que é um número muito baixo se comparado às recomendações mínimas, mas um número alto se comparado a diversos países da Europa.

Agora infelizmente é utópico e de um privilégio enorme darmos por certo, acharmos, ou aconselharmos pensando que todas as mulheres:
- têm informação facilmente, claramente e ao seu alcance,
- são atendidas, podem escolher ou podem pagar por profissionais (pediatras/ginecologistas) qualificados especialistas em aleitamento materno,
- têm acesso/tempo de ir/proximidade a um banco de leite na sua cidade que conte com profissionais qualificados (muitos têm sim, mas não todos),
- têm dinheiro para pagar uma consultora de amamentação, psicóloga, fonoaudióloga, nutricionista, ou qualquer outro profissional,
- têm opção de amamentar à livre demanda ou dar exclusivamente o peito nos primeiros 6 meses extendendo até 2 anos ou mais quando trabalham o dia inteiro,
- têm opção de se dedicar apenas ao bebê quando precisam trabalhar para sobreviver pois são as únicas provedoras e/ou precisam trabalhar para complementar a renda familiar,
- têm uma rede de apoio (ou uma pessoa, um/a companheiro/a, familiar ou amiga) para ajudá-las… e poderia seguir a lista, interminável.
Enquanto a gente não consegue chegar nos padrões ideais (e eles existem???) que tal pelo menos aqui nesse espaço que é de acolhimento livre de julgamento, a gente praticar a tolerância e empatia? Ninguém aqui, nem da nossa parte, nem das participantes da página e do blog pode se considerar acima de tudo e todos, donas da razão ou verdades absolutas. Para quem não sabe, nós fazemos um trabalho tremendo nos bastidores, que ninguém vê.
Nós – tentamos – auxiliar a todas essas mulheres que deixam seus Desabafos (hoje mais de 650) de forma particular, nós respondemos a cada uma delas, temos uma equipe de profissionais que trabalham voluntariamente para isso. Muitos dos e-mails que enviamos voltam por estarem incorretos, problemas com o servidor, vão para a caixa de SPAM ou simplesmente não são respondidos. Outros tantos chegam às mulheres e temos a oportunidade de conhecê-las melhor que apenas no Desabafo que deixaram por vezes de forma anônima. Aqui a gente busca formar uma rede de apoio, e para podermos apoiar precisamos estar abertas e livres de pré-juízos.
Quando uma mãe diz:
Eu não sinto prazer em amamentar, amamento porque é meu filho, ele precisa se alimentar e o leite materno é o melhor alimento. (Extraído de um Desabafo Anônimo)
nota-se já que ela está fazendo um esforço para dar o melhor para o seu filho pois SABE que isso é o melhor, e além do peito ela complementa com a fórmula. Se esse é o caminho que ela conseguiu encontrar, esse foi o compromisso que ela conseguiu fazer para seguir amamentando, acredito que cabe a nós respeitar a decisão dela, que foi feita dentro das possibilidades que ela têm, dentro da realidade que está inserida, com os profissionais que ela têm à disposição, com os recursos psicológicos que ela têm no momento. Ela diz claramente que o leite materno é melhor que o leite em pó, mas pede por favor, que não a olhem como uma ASSASSINA pelo fato de estar dando uma mamadeira para o seu filho, pois ela não está dando veneno para ele.

Enquanto o discurso pró aleitamento materno – que é MUITO necessário e nós SEMPRE apoiamos – for cheio de imposições, regras imutáveis, demandas que não condizem com a realidade da maioria das mulheres, ligando a amamentação ao único, principal e mais importante vínculo mãe-bebê, “amor líquido” entre outras coisas, nós estaremos perdendo a luta para que as mulheres amamentem com sucesso.
Certamente não existe apenas uma forma certa e universal de amamentar. Certamente milhares de mulheres terão problemas reais, físicos/orgânicos que as impeça de amamentar, outras trabalharão jornadas massacrantes que as impossibilitarão de dar o peito exclusivamente, outras terão problemas psicológicos que dificulte o aleitamento, outras podem não desejar/não gostar/não ter prazer em amamentar, outras estarão mal amparadas por profissionais que não sabem nada sobre amamentação, outras podem ter tido bebês prematuros extremos que ficaram MESES em uma incubadora e não conseguiram ter sucesso com a amamentação, outras foram abusadas/abandonadas/violentadas pelos seus parceiros, outras não terão apoio de NINGUÉM… e mais uma vez segue a lista interminável de fatores e variáveis.
Conseguir amamentar em um país onde falta informação, faltam profissionais qualificados, faltam condições básicas de saúde, falta tempo de licença maternidade, falta suporte e redes de apoio para as mães, falta dinheiro para comer, (sobre)viver, vestir, aprender, falta empatia das outras mulheres/mães e da sociedade machista, falta um olhar sem privilégios para a realidade da maioria, falta igualdade, faltam 5.5 milhões de pais nas certidões de nascimento dos filhos… é muito mais do que difícil, é uma maratona cheia de obstáculos fadada ao fracasso! E julgar, apontar o dedo e condenar uma mulher que não conseguiu, pela razão que seja, amamentar, é culpabilizante, é cruel, é feio, é ineficaz…
Enquanto a gente seguir com esse posicionamento que não englobe a realidade e diversidade de mulheres que existem no nosso país, estamos gerando nas mães esse sentimento de CULPA, de INCAPACIDADE, de necessidade de se justificar, de ISOLAMENTO, de não-pertencimento, de raiva, de tristeza, de NÃO DAR CONTA, de FRACASSO.
Temos que informar, acolher, escutar, conscientizar com CARINHO, com apoio, com EMPATIA. RESPEITANDO as diferenças, as realidades que não vivemos, as necessidades de cada mãe e bebê E ACIMA DE TUDO AS POSSIBILIDADES de cada mulher.
Se seguirmos condenado às mães pelos seus insucessos com a amamentação (e qualquer outra demanda), estaremos alimentando a guerra, o radicalismo e a culpa que permeia o universo materno e afastando potenciais defensoras do aleitamento, ainda que não tenham logrado essa tão sublime e importante mas por vezes penosa e difícil tarefa que é a amamentação.
Então se você tem uma história de superação, dificuldade ou sucesso com a amamentação, aqui você pode contar a sua história e apoiar outras mulheres. Aqui é um lugar para que você possa se sentir à vontade para conviver pacificamente lado a lado com mães que amamentaram e mães que deram a mamadeira. Aqui é um lugar para unir e agregar.

Se você quer deixar um Desabafo, pode fazer aqui de forma totalmente segura e anônima se assim o desejar. E nós iremos estar sempre à disposição para tirar as suas dúvidas, lhe escutar atentamente, ativamente e com muito carinho e solidariedade.
A maternidade é cheia de nuances e todas elas devem ser contempladas. Amor e dor, êxtase e tristeza, dificuldades e superações, aprendizados e ensinamentos. O importante é estarmos juntas para apoiar quem precisa desabafar o que está machucando para curar as feridas e crescermos mais fortes e seguras de que estamos fazendo o nosso melhor como mães!
Se você quer informação sobre amamentação visite o nosso site www.temosquefalarsobreisso.com.br e na página inicial acesse: Grupos e Material de Apoio > Puerpério · Pós-Parto > Amamentação
Você pode ler aqui Desabafos e outros textos sobre amamentação
Veja a nossa campanha de como você pode apoiar uma mãe que amamenta!
PS.: Antes que alguém venha dizer que quem dá mamadeira não amamenta, segue a definição do dicionário 😉
Significado de Amamentar
v.t. Dar de mamar; aleitar.
Amamentar é sinônimo de lactar: v.t.d. Dar leite a; dar de mamar; amamentar ou aleitar.
Amamentar é sinônimo de aleitar: v.t. Alimentar com leite.
Tenho 26 anos e dois filhos pequenos…
Sou casada e meu marido parece ser um ótimo companheiro. Faz de tudo em casa, trabalhador, cuida das crianças. Mas não me sinto feliz pq parece que ele foge de ter lazer comigo e com as crianças. Cobro muito isso dele e ele sempre alega não ter dinheiro ou faltar tempo.
Já pensei e já falei sobre separação, mas ele fica agressivo e diz que se eu não for dele não serei de mais ninguém. Já falou que cortaria meu pescoço
Tenho medo de me separar e ele levar meus filhos embora. Não me dou bem com a mãe dele, pra ser sincera, odeio toda a família dele. Uma bando de mesquinhos.
E tenho medo de que ele tenha ajuda de algum deles pra levar meus filhos embora.
Minha vontade é fazer as malas e sumir…Mas e se ele fizer mal a alguém dá minha família? Pressionar alguém pra dizer onde estou?
Me sinto sozinha. Não posso contar isso aos meus pais pq não quero eles envolvidos nisso.
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