Cida Chagas – 15 Novembro 2016
A adoção é um grande passo para aquelas pessoas que querem realmente dar amor e receber amor de forma incondicional, adotar uma criança negra é um passo maior ainda
Os caminhos para adoção no Brasil são tortuosos. Em 2015, havia 5.281 crianças e adolescentes aptos à adoção, conforme o Cadastro Nacional de Adoção (CNA) do Conselho Nacional de Justiça, enquanto o número de pretendentes era cerca de cinco vezes mais, ou seja, 28.151 pessoas queriam adotar uma criança. Mas, infelizmente essa é uma conta que não fecha. O problema ainda é a resistência em aceitar o perfil das crianças a serem adotadas. A maioria das pessoas quer adotar crianças até 03 anos de idade, menina e, se possível, branca. Digo se possível porque o CNA considerou positivo o aumento do percentual das pessoas que estão abertas a adotarem uma criança negra, que subiu de 30,59% em 2010 para 46,7% em 2015. Ao lançarem os resultados de uma pesquisa Encontros e Desencontros da Adoção no Brasil: uma análise do Cadastro Nacional de Adoção em 2012, dizia-se que o racismo era um mito nacional devido à predisposição das pessoas a adotarem crianças negras.
Entretanto, está se falando de pretensão e não de como as coisas acontecem de fato na realidade; se analisarmos, a maioria das crianças que restam na fila de espera são negras. Por exemplo, no ano de 2015, vimos que do total de crianças que foram adotadas, 25% eram brancas e 12,7% eram negras, quando duas em cada três crianças disponíveis para serem adotadas são negras. Um dos argumentos é que a maioria das pessoas que buscam a adoção é branca, então seria natural que buscassem uma criança parecida, para evitarem constrangimentos.
Isso é um aspecto perverso da realidade brasileira sobre a adoção, na qual predomina o valor de laços de sangue e as pessoas querem que a criança passe por sua “verdadeira criança”, segundo alguns, numa tentativa de protegê-la da “maldade” do mundo. Mas relegar uma criança em razão das suas características por si só pode ser uma maldade. Uma atitude míope que não enxerga a potencialidade dos vínculos que poderiam ser desenvolvidos.
Há casos de muitas famílias que relatam os dissabores de enfrentar o racismo por meio de suas crianças adotadas, mas ao mesmo tempo consideram que é uma experiência que os tornam mais fortes ao descobrirem maneiras de empoderar essa criança com experiências que reforçam uma identidade negra positiva, ao invés da negação do que realmente ela é.
As famílias multirraciais passam o tempo todo por constrangimentos e nem por isso negam a existência de um vínculo familiar com a sua criança, com o seu pai, a sua mãe ou seus avós. A sociedade brasileira se esconde por traz do mito da democracia racial e, se somos miscigenados, por que a dificuldade em aceitar que uma criança negra possa ser um filho ou uma filha “verdadeira” de uma mãe branca ou um pai branco? Aí cai a máscara da nossa sociedade, pois estamos exercitando o nosso racismo diariamente e não percebemos que o tempo todo caímos em contradição nas estórias que contamos para nós mesmos.
Curiosamente, o CNA também faz uma avaliação em que as pessoas que aceitam exclusivamente crianças pretas, pardas ou indígenas, em geral, não fazem outros tipos de restrição como de idade ou sexo. Também são mais flexíveis aquelas pessoas que aceitam crianças com 06 anos ou mais, elas não impõem restrições a outras características da criança que estão adotando.
É bem possível que essas pessoas estejam sendo movidas por outros valores do que ter uma criança que possa passar como filha “verdadeira” e evitar constrangimentos. Talvez outra forma de olhar a adoção e a criança, que não como um objeto, um produto que se vai até o mercado, compra e, se não gostar, devolve. Quais são os valores que moldam os olhos e o coração dessas pessoas? A adoção é um grande passo para aquelas pessoas que querem realmente dar amor e receber amor de forma incondicional, adotar uma criança negra é um passo ainda maior.
Os constrangimentos fazem parte do cotidiano da população negra brasileira, as pessoas que adotam uma criança negra devem se fortalecer e buscar entender que o racismo existe na nossa sociedade apesar de todo o mascaramento que está por trás de um tema como esse. É um racismo cordial que enfraquece todas as formas de organização da população negra para enfrentar esse problema.
Não basta falarmos que aceitamos a diversidade e que não somos racistas, a aceitação da diversidade se dá com o exercício da diversidade. Dificilmente alguém que não faça esse exercício no seu dia a dia terá condições de viver essa empatia. Que aceitemos os novos modelos de família que fogem daqueles considerados ideais!
Saiba mais:
Encontros e Desencontros da Adoção no Brasil: uma análise do Cadastro Nacional de Adoção – http://www.cnj.jus.br/images/pesquisas-judiciarias/Publicacoes/pesq_adocao_brasil.pdf
Realidade brasileira sobre a adoção – https://www.senado.gov.br/NOTICIAS/JORNAL/EMDISCUSSAO/adocao/realidade-brasileira-sobre-adocao.aspx
GIACOMOZZI, Andréia Isabel; NICOLETTI, Marcela; GODINHO, Eliete Machado. As representações sociais e as motivações para adoção de pretendentes brasileiros à adoção. Psychologica, [S.l.], p. 41-64, fev. 2016. ISSN 1647-8606. Disponível em: <http://iduc.uc.pt/index.php/psychologica/article/view/2750/1925>. Acesso em: 07 Nov. 2016.
RUFINO, Silvana. Uma realidade fragmentada: a adoção inter-racial e os desafios da formação de uma família multiracial. Revista Katálysis, Florianópolis, v. 5, n. 1, p. 79-88, jan. 2002. ISSN 1982-0259. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/katalysis/article/view/5873/5426>. Acesso em: 07 nov. 2016. http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2016/05/quase-metade-dos-pretendentes-ja-aceita-adotar-criancas-negras.html http://estilo.uol.com.br/gravidez-e-filhos/noticias/redacao/2015/11/20/familias-que-adotaram-criancas-negras-relatam-preconceitos-que-enfrentam.htm http://www.ceert.org.br/noticias/crianca-adolescente/10001/adocao-de-criancas-negras-e-o-enfrentamento-ao-racismo-na-infancia http://www.sdh.gov.br/assuntos/adocao-e-sequestro-internacional/adocao-internacional
sou filha adotiva, minha família que me criou são negros, meu sonho adotar uma menina negra. Qual o primeiro passo!
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Gostaria de saber como faco pra adotar uma crianca negra
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Gostaria de saber como eu e meu esposo podemos adotar uma criança negra independente do sexo, existe mais facilidade nesses casos ate 6 anos aproximadamente…
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Então pode ser Indígenas , ou qualquer cor , eu quero adotar
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Eu gostaria de adotar uma criança , mais eu não quero bebe , eu quero um menino ou menina ja acima de 7 anos . Eu quero uma criança que ja ninguem se interessa mais em adotar , então essa que eu quero , seja menino ou menina .
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