O valor da intuição materna

Por Teresa Ruas – 2 Outubro 2015


O valor da intuição materna

Olá a todos que nos seguem nessa plataforma virtual. Hoje trago novamente um post retirado do meu blog pessoal- minha teoria na vida/ teteruas.blogspot.com.br- e, adaptado para esse nosso espaço de acolhimento afetivo, ok?

Ultimamente, tenho pensado muito sobre o valor e a sabedoria que existem ‘antigas’ práticas cotidianas e que são desqualificadas em nosso dia a dia.

Essa reflexão pessoal começou com maior intensidade após me tornar mãe e ao ver tantos vídeos que pregam métodos milagrosos para a criança dormir, comer, parar de chorar, entre outros. E, especificamente, os diversos vídeos da internet que pregam métodos inéditos para que o recém- nascido pare de chorar em questões de segundo, angustiaram-me rapidamente.

Essa sensação de angústia aconteceu, pois, ao ver os vídeos, imediatamente, recordei-me de práticas cotidianas que minhas bisavós, avós e minha mãe também faziam e, da mesma maneira. E que eu, ainda criança, as colocava em ação quando embalava as minhas bonecas durante as minhas brincadeiras, nas quais elaborava e internalizava o meu papel como mãe, ou melhor como aprendiz de uma mãe.

Enrolar os recém- nascidos, embalá-los, embrulhá-los, acalentá-los e fazer chiados- chiiiiiiiiii- em seus ouvidos são ações muito antigas, milenares, seculares… Atividades tão presentes no dia a dia da maternagem, realizadas de diferentes modos e em várias culturas, que até são tidas como atos inerentes aos pais, diante do choro descontrolado/prolongado de um recém- nascido. Ou seja, ações que expressam a existência de uma mãe e de um pai, mesmo que eles não saibam pela ciência que o barulho do chiado seja muito semelhante ao do útero, que o recém- nascido gosta de sentir mais acolhido/enroladinho/embrulhadinho porque é assim que ele vivencia os seus últimos meses no útero, diante do escasso espaço, entre outras explicações teóricas.

Venho refletido que, mesmo que reconheçamos a fundamental importância da ciência em nossas vidas, temos que validar também condutas e atividades que foram descobertas e construídas culturalmente, diante da própria intuição de mães em suas trajetórias

diárias de aprendizagem com os seus bebês e durante o ato de maternar.

Experiências vivenciadas, justamente, em uma época em que a intuição era o recurso mais valioso para o ser humano conseguir respostas diante de uma situação- problema. Porque antes mesmo da ciência existir como tal, a intuição humana era o caminho mais fidedigno para encontrar respostas diante de perguntas e dúvidas oriundas do dia a dia e do próprio processo de existir e de viver.

Portanto, recordei de mães que não contavam com as ‘infalíveis’ técnicas, teorias e métodos batizados pela ciência. Contavam mesmo era com o valor das experiências diárias e dotadas de muito sentido. E por isso foram mulheres tão sábias, mesmo que não adquiriram nenhum diploma universitário e/ou algum título científico. Mas foram sábias e perpetuaram os seus conhecimentos ‘de geração em geração’, pois compreenderam o que de fato significava ter experiências embasadas também pela intuição materna.

A intuição humana nos permite que atentamos aos detalhes cotidianos, acima de tudo, com os olhos do coração e do afeto. É como se a intuição, especialmente a materna, conseguisse acalentar as angústias e os medos diários. Não de maneira imediatista, mas de uma forma mais natural e saudável. Afinal de contas, …”o sujeito da experiência, ou seja, a mãe que aprende diariamente, se define não por sua atividade, mas por sua passividade, por sua receptividade, por sua disponibilidade, por sua abertura. Trata-se, porém, de uma passividade anterior à oposição entre ativo e passivo, de uma passividade feita de paixão, de padecimento, de paciência, de atenção, como uma receptividade primeira, como uma disponibilidade fundamental e como uma abertura essencial”- Bondia-.

E, infelizmente, essa nossa capacidade humana de intuir, de ser disponível, de ter paciência e de aguardar a resposta do outro está perdendo forças e a validade diante do ritmo contemporâneo atual- em que não temos tempo para sentir, capturar e vivenciar as delicadezas e sutilezas cotidianas, como, por exemplo, compreender e sentir o choro de nossos bebês, como, também, uma resposta ativa do quanto estão vivos-.

Ao contrário disso, nos atentamos muito aos dizeres autoritários da ciência, os quais desvalidam o valor dos sentimentos e dos afetos na resolução diária dos problemas cotidianos, como, fazer um bebê se acalmar e parar de chorar diante do acalento de um colo materno.

E quando reflito sobre a importância em validarmos ações típicas de nosso cotidiano, não estou sendo contra os avanços científicos. Até porque, como vocês já sabem, a minha filha sobreviveu diante dos avanços da neonatologia. Portanto, as descobertas científicas foram e são extremamente valiosas! Mas não podemos permitir que ações tão milenares, antigas e próprias de nossa cultura só ganhem notoriedade quando validadas pelo discurso científico, com números, frequências e aplicabilidade.

Antes de qualquer método, técnica… existe a ação humana como forma de expressão de um ser vivo que sente, que observa, que intui, que planeja, que resolve… existem mães que embalam os seus filhos e que os observam a todo o instante. Existem mães que permitem que o conhecimento seja adquirido e construído a partir da relação direta com os seus filhos, aos poucos e, sem o imediatismo e sem a cobrança de não poder errar, experimentar e fazer alguma atividade/conduta quantas vezes forem necessárias. E mais do que isso, existem mães que validam os conhecimentos e práticas enraizados em nossa cultura. Aqueles passados de geração em geração no cuidado com o recém- nascido/ criança, que, frequentemente, são ‘esquecidos’, só porque a ciência ainda não os enxerga como métodos.

Que bom seria se o conhecimento diário e cotidiano pudesse ser a base para toda e qualquer investigação científica, ainda mais no campo da maternidade. Afinal de contas, mãe sabe que não existe receita, teoria e nem método eficaz que dê todas as respostas. A maternidade é sinônimo de vivência diária, de corpo a corpo, de intuição, de muitos sentimentos à flor da pele, de muitas tentativas e erros e, de muita aprendizagem e experiência dotada de sentido cotidiano e cultural.

Portanto, finalizo esse post, esperançosa de que nós mães sejamos mais fortes e resilientes no intuito de darmos mais atenção a nossa capacidade de intuir, sentir, repetir, observar, desvelar… Que possamos escutar, mais atentas, os aprendizados provindos das experiências de nossas bisavós, avós, mães e cultura da maternagem. E que a ciência seja honesta para afirmar o quanto necessita dos conhecimentos cotidianos, da cultura e da intuição materna e humana para continuar a sua existência.

E para quem se interessar em ler o que significa vivenciar uma experiência dotada de sentido, segue o link de mais um post, ok?

https://temosquefalarsobreisso.wordpress.com/2015/09/16/experiencias-dificeis-nao-foram-sentidas-para-serem-esquecidas/

Um grande abraço, com afeto, Teresa Ruas

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s